Hoje, cães e gatos coabitam conosco em todos os ambientes da casa. Várias mudanças na vida dos humanos podem ser dadas como explicação para o fenômeno: mais pessoas vivem sozinhas, há mais casais sem filhos e muito mais gente mora em apartamento. Mas o fato é que os laços afetivos se estreitaram, ao ponto de se falar em "famílias multiespécie".
Se os animais nos ajudaram a amenizar a solidão, eles foram também os mais beneficiados com essa proximidade: passaram a viver mais. Muito mais. Um levantamento do hospital veterinário Sena Madureira mostra que dos anos 1980 até hoje a expectativa de vida dos mascotes domésticos deu um salto. Praticamente dobrou na amostra estudada, que considerou os 120 mil cães tratados desde 1980 no local, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.
Cães de pequeno porte, que chegavam, em média, até os 9 anos de idade, hoje alcançam os 18. Os grandões já vivem normalmente até os 13. Com os gatos, a mesma história: passaram a viver 20 anos. A façanha, que nos animais levou meras três décadas, nos humanos demorou quase um século. "Houve uma mudança drástica. Com o contato maior do animal dentro de casa, qualquer sintoma é percebido pelo dono rapidamente", diz o diretor do Sena Madureira, o médico veterinário Mário Marcondes, 37. Além disso, como as vacinas são anuais, a visita ao veterinário também é feita com a mesma periodicidade, então fica mais fácil perceber se algo vai mal antes que o problema se agrave.
Créditos: jornal Folha de São Paulo.
Essa atenção toda, somada aos avanços da medicina veterinária e à alimentação balanceada, explica a vida mais longa de cães e gatos. Assim como os humanos, quanto mais idosos, eles ficam mais propensos a doenças ligadas à idade, como pressão alta, catarata, artrose, demência, insuficiência cardíaca e renal. A população de animais idosos cresceu, e donos zelosos têm mudado a própria rotina e investido fatia grossa da renda mensal no bem-estar desses anciões peludos.
A mudança nas relações entre humanos e animais é objeto de estudo da veterinária e doutora em psicologia Ceres Faraco, 61. "Quando me formei, em 1976, os animais eram eutanasiados quando chegavam a certa idade e precisavam de mais cuidados do que as pessoas estavam dispostas a dar. Tratamentos eram a exceção." Ceres usa o termo "família multiespécie" para designar essa nova convivência. "As famílias mudaram e, mais do que laços de sangue, hoje contam os vínculos afetivos." Dentro desse novo conceito de relações familiares, o animal deve, segundo a veterinária, ser considerado parte da família. "Muitas pessoas são contra isso, mas é um fato." Os animais podem ser tão significativos quanto outros membros da família, na perspectiva da psicologia e da própria constituição do self", diz Ceres.
Créditos: jornal Folha de São Paulo.
Alheia a toda essa discussão filosófica, a advogada Márcia Regina Campos, 59, continua a cumprir seu papel de fiel protetora de Tutti, uma Fox paulistinha de 16 anos que, depois de desenvolver diabetes e superar dois cânceres, sofreu um AVC no começo do ano. Agora, Tutti acorda a dona a cada duas horas, porque não consegue mais chegar sozinha até o jornal para fazer xixi. Meio confusa também ficou a vira-lata Gertrude, adotada pela veterinária Fernanda Harry, 33, há quatro anos. De uns dois meses para cá, a cachorrinha de cerca de 16 anos, que era um anjo, passou a roer as roupas da dona e a fazer xixi e cocô onde lhe dá na telha. Fernanda acredita que o comportamento se deve a problemas cognitivos associados à velhice. O "Alzheimer canino", como foi apelidado, também conhecido como demência, é relativamente comum, mas quem tem animais de estimação não precisa se desesperar. Com o avanço da medicina veterinária, o problema, como quase todos os mencionados nesta matéria, costuma ter tratamento.
Além disso, há diagnósticos que não eram disponíveis antes, como ecodoppler, para descobrir problemas em válvulas do coração, e exames de sangue ultrarrápidos que detectam desde anemias a insuficiências hepáticas e renais.
Fonte: Folha de São Paulo, resumidas e adaptadas pela Equipe Nossa Matilha.
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